segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

ELOGIE DO JEITO CERTO

Elogie do jeito Certo

Por Marcos Meier*

Recentemente um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, mas que as crianças executariam sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos.

O grupo A foi elogiado quanto à inteligência. "Uau, como você é
inteligente!", "Que esperta que você é!", "Menino, que orgulho de ver o quanto você é genial!" ... e outros elogios à capacidade de cada criança.

O grupo B foi elogiado quanto ao esforço. "Menina, gostei de ver o quanto você se dedicou na tarefa!", "Menino, que legal ter visto seu esforço!", "Uau, que persistência você mostrou. Tentou, tentou, até conseguir, muito bem!" ... e outros elogios relacionados ao trabalho realizado e não à criança em si.

Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à
primeira foi proposta aos dois grupos de crianças. Elas não eram
obrigadas a cumprir a tarefa, podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de consequência.

As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A simplesmente recusou a segunda tarefa. As crianças não queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas as crianças do grupo B aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.

A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. As crianças "inteligentes" não querem o sentimento de frustração de não conseguir realizar uma tarefa, pois isso pode modificar a imagem que os adultos têm delas. "Se eu não conseguir, eles não vão mais dizer que sou inteligente". As "esforçadas" não ficam com medo de tentar, pois mesmo que não consigam é o esforço que
será elogiado. Nós sabemos de muitos casos de jovens considerados inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles jovens "médios" obterem a vitória. Os inteligentes confiaram demais em sua capacidade e deixaram de se preparar adequadamente. Os outros sabiam que se não tivessem um excelente preparo não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram melhor em cada uma das disciplinas.

No entanto, isso não é tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra o preconceito, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se consegue nada disso por meio de elogios frágeis, focados no ego de cada um. É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado.

Nossos filhos precisam ouvir frases como: "Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração", "parabéns meu filho por ter dito a verdade apesar de estar com medo... você é ético", "filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído como algumas colegas fizeram... você é solidária", "isso mesmo filho, deixar seu primo brincar com seu video game foi muito legal, você é um bom amigo". Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o comportamento da criança que tenderá a repeti-los. Isso não
é "tática" paterna, é incentivo real.

Por outro lado, elogiar superficialidades é uma tendência atual. "Que linda você é amor", "acho você muito esperto meu filho", "Como você é charmoso", "que cabelo lindo", "seus olhos são tão bonitos". Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em comportamentos, nem em atitudes. São apenas impressões e interpretações dos adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens emocionais, birras, manhas e "charminhos". Quando adultos, não terão desenvolvido
resistência à frustração e a fragilidade emocional estará presente.

Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, copas grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil.

Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme e carinhosa.

* Marcos Meier é psicólogo, professor de Matemática e mestre em Educação. Especialista na teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva de Reuven Feuerstein, em Israel. Também conhecida como teoria da Mediação da Aprendizagem.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Conversando sobre Desordem de Processamento Auditivo (DPA)

Conversando sobre Desordem de Processamento Auditivo (DPA)

Dra. Denise Menezes
www.dradenisemenezes.com

"Eu não entendo. Parece que meu filho não ouve, mas ele já fez audiometria várias vezes e sempre dá normal. Meu marido acha que ele 'ouve quando interessa'. Isso tem atrapalhado muito sua convivência em casa e na escola."

"Meu filho não presta atenção às aulas, conversa demais, brinca com a borracha em vez de fazer o que a professora pede, vive no 'mundo da lua'! Será que ele tem 'Déficit de Atenção e Hiperatividade'?"

"Meu filho se isola de todo o mundo. A professora diz que os coleguinhas o chamam para brincar, mas ele prefere brincar sozinho. Demorou a falar e tem muita dificuldade para comunicar o que pensa. Já me perguntaram se ele é autista, mas ele é muito afetivo e carinhoso. Pode ser um autismo leve?"

"Ah! Meu filho parece tão infantil para a idade! Eu fico com o coração pequeno quando o vejo brincando com os outros do grupo. Ele adora fazer graça, é o palhaço da turma, mas ele não percebe que os outros riem dele. Ele se dá melhor com crianças mais novas do que ele."

"A professora do meu filho perguntou se ele tem alguma deficiência, porque ele não aprende como os outros, não entende as regras dos jogos e se perde nas brincadeiras. Eu confesso que já pensei nessa possibilidade."

Estas e outras questões me são apresentadas com frequência. A criança parece ter algo errado, alguma coisa que não funciona normalmente e que gera dificuldades escolares ou de socialização, mas não preenche todos os pré-requisitos para os diagnósticos aventados acima. Isso pode ser Desordem de Processamento Auditivo (DPA)? Sim, pode. Vamos conversar sobre esse quadro que já existe formalmente há tantos anos, mas ainda é tão sub-diagnosticado?
Este texto foi escrito no formato de uma conversa, baseado nas perguntas que pais e profissionais da área da saúde e da educação costumam me fazer sobre o assunto. Tanto as perguntas como alguns trechos das respostas estão em negrito ou em itálico para chamar atenção ao que está escrito.

DPA? O que é isso?
É uma disfunção dos circuitos cerebrais responsáveis pela distribuição e processamento das informações obtidas através da audição.voltar

Quem tem DPA tem perda auditiva?
Não. Audiometria normal não significa processamento auditivo normal.voltar

Quem tem perda auditiva também pode fazer avaliação do processamento auditivo (PA)?
Sim, para saber se além do prejuízo periférico existe um prejuízo central. No entanto é necessário fazer uma seleção cuidadosa dos testes. Isso vai depender do tipo e do grau da perda auditiva e se ela é simétrica ou não.voltar

Qual a causa dessa desordem?
Como a maioria dos transtornos neurológicos, podemos ter causas lesionais, maturacionais e genéticas. Acredito que a predisposição genética esteja presente na maioria dos casos maturacionais.voltar

Explique melhor. O que acontece nos casos lesionais?
Uma criança que sofra uma lesão cerebral precoce por anóxia de parto, encefalite, hemorragia cerebral ou traumatismo cranioencefálico, por exemplo, pode perder parte dos neurônios responsáveis pela distribuição da informação auditiva no cérebro.voltar

Por que precisamos distribuir a informação auditiva para outras áreas? Nós não escutamos em um local específico do cérebro?
Sim, nós temos uma área primária específica para receber as informações auditivas, mas, e daí? Não basta escutar. Para que a informação escutada promova uma resposta do organismo, o estímulo tem que chegar às áreas da memória (já escutamos antes?), às áreas da linguagem (o que significa isso que eu escutei e que já tinha escutado antes?), às áreas das emoções (estão falando sério, brigando ou brincando?), às áreas motoras (preciso executar um ato – escrita, atividade corporal etc. – relacionados com aquilo que eu ouvi), às áreas visuais (para associarmos o que escutamos a uma imagem) etc.voltar

É verdade. As coisas não acontecem de forma mágica no cérebro.
Isso! A comunicação entre os neurônios, através das sinapses, é que determina o funcionamento cerebral. E as áreas primárias, que já nascem prontas, necessitam que os circuitos das áreas de associação desenvolvam suas sinapses após o nascimento.voltar

Quer dizer que nosso cérebro não nasce pronto?
Não apenas não nasce pronto, como nunca termina de se desenvolver. Em condições normais, nascemos com os neurônios bem distribuídos, mas a comunicação entre eles acontece pela necessidade do uso da função.voltar

Se não precisarmos usar alguma parte do cérebro, a função correspondente não se desenvolve?
Exatamente. Um animalzinho de experimentação em laboratório que fique meses no escuro após o nascimento, vai ter seus circuitos visuais atrofiados. Já o uso frequente de determinadas funções aperfeiçoará a eficiência dos circuitos cerebrais correspondentes. A plasticidade cerebral é justamente essa capacidade que o cérebro tem de modificar sua sinapses para que o aprendizado ocorra.voltar

Voltando à DPA: se, por uma lesão, perdermos os neurônios responsáveis por essa distribuição e processamento da informação auditiva, teremos uma DPA de causa lesional?
Seguramente! Nesse caso, é comum que a criança apresente outros problemas além da DPA, já que as lesões podem ser extensas. Muitas vezes o que mais prejudica o paciente é a somatória de problemas secundários às lesões e tratar a DPA, às vezes, não é prioridade.voltar

É frequente essa causa de DPA?
Em serviço público de atendimento, dentre as pessoas de baixo nível socioeconômico, que têm dificuldades de acesso aos cuidados à saúde em geral, à assistência à gestação e ao parto, ou que têm desnutrição precoce na vida, os casos lesionais podem ser a maioria.voltar

E as causas genéticas e maturacionais?
Na estatística de consultório, são a maioria.voltar

E como acontece?
Nesses casos, os neurônios estão íntegros, porém não se comunicam de forma eficaz. Há uma pobreza de sinapses nos circuitos associativos do PA e nós dizemos que esses circuitos não estão suficientemente maduros para a idade.voltar

E isso é determinado geneticamente?
Em parte, sim. O ritmo de desenvolvimento cerebral depende do padrão herdado e da presença de estímulos adequados para que esse desenvolvimento ocorra.voltar

Estímulos adequados? Bem, parece que todo o mundo ao nascer é exposto aos sons, às vezes até demais! Nesta situação, como pode acontecer de alguém não ser exposto a estímulos adequados?
Muitas crianças têm tendência a catarros na orelha média, atrás dos tímpanos. A presença dessa secreção impede o tímpano de vibrar e, portanto, de transduzir a onda sonora de pressão em impulso nervoso. Com isso, a quantidade de estímulos que chega à área primária da audição não é suficiente para desenvolver a rede sináptica auditiva.voltar

Mas, nesse caso, a criança não escuta direito. Não seria um caso de perda auditiva?
Nesse momento da vida, sim, mas quem nota que um bebê de meses, um ano ou dois escuta pouco? Perceba que não é surdez total ou permanente, mas flutuante e reversível. Há momentos do dia, ou dias da semana, ou semanas do mês, em que ele escuta melhor, outros em que escuta menos.voltar

E o que provoca essa secreção na orelha média?
Alergias, por exemplo. O bebê que costuma ter o nariz "encatarradinho", até pela anatomia da tuba auditiva nessa idade, deixa escorrer para o ouvido a secreção. Bebê que mama deitado deixa escorrer até leite para lá.voltar

Então essa criança deve ter muita dor de ouvido!
Nem sempre. Se essa secreção na orelha média for contaminada com bactérias, a criança desenvolve as conhecidas otites médias agudas de repetição, com febre e dor de ouvido. A criança volta e meia tem que tomar antibióticos. Mas se não houver contaminação bacteriana, o sintoma pode ser sutil, apenas a perda oscilante e irregular da audição.voltar

Se ela tratar as alergias, se conseguir eliminar a secreção da orelha média, então ela sara de tudo?
Pode sarar da dificuldade auditiva, mas ficar com as áreas de associação da audição imaturas, por falta de estímulos na idade mais favorável para que essa maturação ocorra.voltar

Quer dizer que existe um momento ideal para o cérebro ser estimulado a amadurecer?
Sim. Esse momento ideal varia de acordo com a função cerebral. Para o processamento auditivo temos três fases que vão de 0 a 2 anos, de 2 a 7 anos e de 7 a 14 anos. A primeira fase é fundamental para que todo o amadurecimento ocorra. O atraso dela pode repercutir em todo o resto.voltar

Ah! Agora entendi o que seria uma Desordem de Processamento Auditivo Central maturacional. Mas você disse que o fator genético costuma estar presente nos casos maturacionais. Por quê?
Porque nem todas as crianças que tiveram otites agudas bacterianas de repetição ou otite média secretora desenvolvem DPA. Muitas normalizam a função auditiva por completo ao sarar desse quadro de secreções. Só o fato de voltarem a ouvir bem permite que a maturação dos circuitos como um todo venha a acontecer, sem precisar de tratamento especializado.voltar

Então o problema auditivo no início da vida deixa sequelas em quem tem predisposição para isso?
Exatamente. Como a maioria dos transtornos de saúde, é uma junção de fatores que dá origem ao problema.voltar

Existe DPA em quem nunca teve lesão cerebral nem doenças de ouvido na infância? De causa exclusivamente genética?
Sim. Nesses casos a incidência de problemas semelhantes na mesma família costuma ser fácil de identificar.voltar

E como é o quadro clínico de uma criança com DPA?
O quadro clínico vai depender de quantas e quais funções do processamento auditivo estão comprometidas. E também se existem co-morbidades.voltar

Então o Processamento Auditivo divide-se em vários itens?
Sim. Podemos ter alterações isoladas ou combinadas de: decodificação (entender o que se ouve), codificação (construir uma informação com base no que ouviu, integrando esta informação auditiva a outras funções cerebrais), organização (representar eventos sonoros no tempo) e prosódia (entender aquilo que está por trás do que se ouve). Avaliando-se a capacidade de um indivíduo em responder diferentemente à presença ou ausência de sons da fala (detecção); diferenciar estes sons (discriminação) e identificar estes sons (reconhecimento), podemos inferir em como está a habilidade deste indivíduo em compreensão de linguagem.voltar

Por isso o quadro clínico pode ser muito diferente de um paciente para outro?
Sim, pode. Ele depende de quantas funções estão comprometidas e em que intensidade.voltar

Dá para fazer um resumo do que pode acontecer?
Podemos ter uma criança:
COM ATRASO DE AQUISIÇÃO DA FALA:
por ter escutado pouco no início da vida.
COM DIFICULDADE DE ALFABETIZAÇÃO:
a dificuldade de audição leva a alterações na formação da linguagem na estrutura cerebral; para ela é difícil fazer a relação entre grafema (a forma da letra) e o fonema (o som da letra). Isso pode gerar um quadro semelhante à dislexia, embora, sendo secundário, não preencha os quesitos necessários para esse diagnóstico.
DESATENTA:
1) em ambientes ruidosos, porque isso prejudica a decodificação;
2) quando o estímulo predominante for o auditivo e não houver um estímulo visual reforçando a informação, porque ela perde-se no meio da atividade;
3) quando a dificuldade de compreensão deixa-a insegura e ela prefere fugir para uma atividade mental fantasiosa que disfarce sua incapacidade.
AGITADA:
quando a dificuldade de acompanhar o que acontece em volta a deixar insegura ou confusa; para disfarçar sua incapacidade.
COM DIFICULDADE DE MEMORIZAÇÃO:
específica para a memorização e resgate de informações auditivas.
EXCESSIVAMENTE INGÊNUA:
por não entender emoções nem duplo sentido no que ouve.
EXCESSIVAMENTE BRINCALHONA:
a ponto de ser inconveniente e incomodar os próprios colegas, pois "é melhor fazê-los rir com ela do que dela".
ISOLADA:
pois sente-se excluída ou incompreendida pelos colegas da mesma idade.
QUE PREFERE FICAR COM ADULTOS:
pois os adultos são mais compreensivos com suas dificuldades.
QUE PREFERE BRINCAR COM CRIANÇAS MENORES:
pois a elas consegue impressionar e liderar.voltar

Por que ficamos com a impressão de que a criança só ouve quando quer?
Porque o nível de compreensão oscila. Quando o ambiente for mais silencioso e quando houver reforço visual, ela vai poder compreender melhor. Além disso, é claro, todos nós nos envolvemos mais e melhor nas atividades que nos dão prazer.voltar

É por isso que apesar de desatenta ela consegue ver filmes do início ao fim?
Sim. Como o estímulo visual é predominante, ela consegue manter-se envolvida nessa atividade. Uma criança desatenta que consiga ver filmes inteiros desde bem pequena, ou que fique horas brincando com lego, provavelmente não tem TDAH e sim DPA.voltar

Às vezes me parece que meu filho tem preguiça de estudar, já que para ver TV ele é atento...
Eu costumo dizer que preguiça não existe. Sempre que seu filho tiver preguiça para fazer alguma coisa, procure um outro motivo para isso. No caso do DPA é fácil entender que a dificuldade desmotive o estudo, pois existe grande possibilidade de fracasso. E se você ficar rotulando-o de preguiçoso, ele tenderá a assumir cada vez mais esse papel. Pelo contrário, demonstre entender o quanto é difícil para ele e valorize seu esforço. voltar

E depois de suspeitarmos de DPA, como fazemos o diagnóstico?
É necessário fazer uma avaliação audiológica que inclua a audiometria (a criança escuta?), imitanciometria ou impedanciometria (o tímpano vibra?) e, por fim, assegurado que essas duas etapas estão suficientemente normais, o processamento auditivo. Esses exames são feitos por um fonoaudiólogo especializado, em uma cabina acústica, geralmente em uma a três sessões, dependendo da idade do paciente e do nível de colaboração durante o exame.voltar

Mas, se o momento ideal para o cérebro ser estimulado e amadurecer as conexões auditivas já passou, o DPA é tratável? Tem cura?
Na maioria das vezes, sim. Os casos lesionais podem pelo menos melhorar. Os maturacionais e/ou genéticos, na maioria das vezes, curam completamente com estimulação adequada.voltar

E como é esse tratamento?
Existem várias formas de tratar que se complementam. Estimulação formal em cabine, quando a criança é mais velha e colabora com o treinamento auditivo; tratamento clínico fonoaudiológico, indispensável; e tratamento medicamentoso.voltar

Existe remédio para DPA?
Existe, embora seja um tratamento coadjuvante apenas. Homeopatia é uma excelente opção, pois torna o cérebro mais responsivo aos estímulos e acelera o resultado do tratamento fonoaudiológico. Existem trabalhos que sugerem que algumas drogas estimulantes podem também ser úteis, mas confesso que considero uma medida exagerada quando o problema é isolado. Se houver co-morbidade com TDAH, a indicação seria pelo TDAH. Você pode ler mais sobre isso no texto do site Conversando sobre TDAH.voltar

Desvios de linguagem: é preciso agir rápido.

O diagnóstico precoce é fundamental para corrigir problemas como gagueira e troca de letras.

"Meu filho trocou o 'L' pelo 'U' logo que começou a falar. A gente até brincava, lá em casa, que ele nunca poderia arrumar uma namorada chamada Lili quando crescesse, porque não ia conseguir dizer o nome dela", conta, rindo, a advogada Vera Maria, mãe de Tiago Silveira, que agora tem 5 anos e -- felizmente -- já pode namorar uma Lili.

Foi necessário um ano de tratamento com exercícios diários, feitos sob a orientação de uma fonoaudióloga, para que Tiago superasse seu problema e conseguisse dizer "bola" em vez de "boua". O final feliz dessa história só aconteceu porque Vera detectou o problema logo no início e não titubeou: levou o menino a um otorrino que pediu alguns exames e, em seguida, o encaminhou para uma fonoaudióloga.

Desenvolvimento. O diagnóstico precoce é, sem dúvida, a melhor forma de prevenir ou corrigir mais rapidamente problemas de linguagem e é por isso que os especialistas alertam os pais sobre a necessidade de ficar atento às crianças quando elas começam a falar. Só que, para descobrir o que está errado, é preciso entender como é o desenvolvimento normal da linguagem a partir do momento em que o bebê começa a balbuciar os primeiros "gugu", "dada", "papa", "mama".

Ele usa esses fonemas indiscriminadamente, sem definição de significado: "au-au" pode significar tanto cachorro, quanto gato ou brinquedo. Só um pouco mais tarde é que aprende a aplicá-los corretamente: "au-au" para o cachorro, "miau" para o gato, "cocó" para a galinha, e assim por diante.

Por volta dos dois anos, a criança já consegue dizer algumas palavras simples para pedir coisas, mas é entre os 2 e 3 anos, que acontece o boom do vocabulário. Segundo algumas pesquisas, nessa fase, a criança aprende de 5 a 10 palavras por dia. Com o aumento de repertório, vai deixando de ser monofrásica - ou seja, de usar apenas uma palavra como se fosse uma frase.

Começa a juntar duas ou três: "Mama, dá bola". É nesse período, ainda, que faz as primeiras tentativas de conjugar verbos: "eu fazeu, eu fizi, eu fazi, eu fiz". Todo esse processo culmina com a tagarelice própria dos 3, 4 anos, embora possa haver, ainda, pequenas dificuldades a superar.

É o caso do "r" e de alguns fonemas como o "que" e o "gue", mais difíceis, já que pedem o uso da parte posterior da língua (os mais fáceis são os que exigem o uso da parte anterior da língua, caso das letras "b", "t", "m").

Os problemas. É, portanto, a partir do segundo ano que podem começar a se evidenciar alguns distúrbios de linguagem. E é fundamental saber reconhecer essas dificuldades. Confira.

Com dois anos

  • A criança não fala nem tem uma "atitude comunicativa". Ou seja, não parece ligada ao ambiente que a cerca.
  • Fala de forma incompreensível, pronuncia sons que não significam nada, ninguém entende o que ela quer dizer.

Entre dois e três

  • Continua falando como um bebezinho, seguindo a fórmula onomatopáica, dizendo "au-au", "piu-piu".
  • Não passa pelo boom de vocabulário previsto nessa fase. Não sabe palavras relativas a espaço, tempo, cor, forma, tamanho.

Com 3 anos completos

  • Ainda não saiu da fase do tatibitate, quando troca o "b", "t" e "d" por outras letras. Bola ainda é pola, dominó sai tominó.
  • Demonstra dificuldade para passar, numa mesma palavra, dos sons produzidos pela parte posterior da língua para os produzidos pela parte anterior, ou vice-versa. Exemplo: em vez de tartaruga, diz tataluda; gato vira dato etc.
  • Dá os primeiros sinais de gagueira, que pode se caracterizar tanto por pausas longas no discurso, quanto pelo prolongamento ou repetições de fonemas e palavras.

As causas. Existem vários fatores que podem provocar esses desvios. Os mais evidentes são detectados pelo pediatra quando a criança nasce ou nos primeiros meses de vida e vêm associados a atrasos no desenvolvimento motor e cognitivo. Estão nesse grupo os problemas de origem neurológica ou congênita, e aqueles provocados por traumatismos na cabeça ou intoxicação medicamentosa.

Problemas de linguagem podem ser também resultado de mal-formações dos órgãos fonoarticulatórios, caso da boca, do palato (céu da boca) ou do véu palatino (a chamada campainha) ou, então, desencadeados por flacidez muscular, provocada por hábitos como respirar pela boca ou usar a chupeta por mais tempo do que devia.

A surdez é outra causa muito comum. E não apenas entre as crianças que já nascem com a deficiência. Aquelas que têm otites, rinites e infecções freqüentes das vias superiores podem apresentar pequenas perdas de audição que, mesmo temporárias, interferem no desenvolvimento da comunicação.

Por último, existe o grupo das causas psiquiátricas e/ou psicológicas. É o caso da síndrome do autismo, da predisposição genética à gagueira, dos episódios de internação hospitalar prolongada, da quebra de vínculos afetivos. Crianças que vivem muito isoladas, com pouca estimulação, também costumam apresentar atrasos na linguagem.

A avaliação. Para chegarem ao diagnóstico, os médicos e fonoaudiólogos fazem um levantamento completo do histórico da criança e aplicam testes para verificar vocabulário, articulação, o uso que faz da linguagem, a fluência para o padrão de sua idade. Somente então se define qual o melhor tratamento. Muitas vezes, o que a criança precisa é só de um pouco mais de tempo e atenção da família. Mas, de acordo com o grau de comprometimento e das causas do atraso, pode ser necessário encaminhá-la para uma equipe multidisciplinar, formada por pediatras, fisioterapeutas e fonoaudiólogos.

Fontes: Debora Maria Befi, fonoaudióloga, professora da Faculdade de Medicina da USP; Jacy Perissinoto, da Universidade Federal de São Paulo; Laura Wey Märtz, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.


A melhor atitude


Saiba como agir para não agravar os problemas de linguagem de sua criança.

  • Nunca ridicularize ou aponte os erros quando ela fala. Tampouco imite-os, mesmo que na hora pareçam engraçadinhos.
  • Não brigue com a criança porque ela fala errado nem se apresse a corrigi-la. Não fale por ela, mas com ela.
  • Use vocabulário adequado para a idade, evitando conceitos abstratos.
  • Lembre que brincadeiras e jogos favorecem a aquisição de conteúdo e o desenvolvimento da linguagem.
  • Estimule seu filho a participar das atividades da casa e vá dando nome aos objetos que o cercam.
  • Dê atenção a seu filho quando ele fala. Muitas vezes a criança engole sílabas, fala de forma incompreensível ou gagueja por medo de que o adulto não preste atenção no que ela está dizendo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Diversão em família

Nesta conversa, Hilda Sarti, professora e doutora em educação pela PUC-SP, conta por que os jogos enriquecem a convivência entre pais e filhos

Cristiane Yamazato


  Thinkstock

CRESCER: Por que os jogos e as brincadeiras em família são tão legais?
Hilda Sarti:
Porque eles são uma forma de comunicação universal. Quando pais e filhos se reúnem para se divertir, eles estão fortalecendo os laços de afeto, o diálogo e trabalhando o conceito de respeito também. Respeito ao outro e às regras necessárias para jogar e também viver em grupo. Quando os pais se esforçam para garantir tempo e espaço para brincar com os filhos, eles estão contribuindo na formação de uma sociedade melhor.

C: Jogos como o da memória, o dominó e o quebra-cabeça podem ser apresentados às crianças de qual idade? Quais são os benefícios dessas atividades?
H.S.: Em geral, a partir de 1 ano de idade, essas brincadeiras são altamente recomendadas! Elas desenvolvem o raciocínio, a memória, os sentidos, a coordenação motora... Também auxiliam na fala, já que é preciso se comunicar enquanto se joga. Com o tempo, a complexidade pode ir aumentando. Propor novos desafios aos pequenos faz com que eles se desenvolvam, fiquem ainda mais espertos... Não esquecendo que é fundamental ter bom senso, ou seja, os desafios devem ser apropriados. Os pais precisam levar em conta as características do filho e o seu repertório. Cada criança é única. Devemos respeitar o ritmo de desenvolvimento e os interesses dela.

C: As regras dos jogos podem ser adaptadas?
H.S.: Podem, sim. Se os pais entenderem que um jogo é muito difícil, podem simplificar as regras e depois, com o tempo, acrescentar novos desafios. Aliás, é possível ainda criar novas regras, inventando novas maneiras de jogar. Outra possibilidade é criar novas brincadeiras. As peças de um dominó podem servir para construir "prédios", você também pode mostrar o "efeito dominó", em que cada peça derruba a seguinte... O importante é que os pais soltem a imaginação. Isso também vai estimular as crianças a fazer o mesmo!

C: Como explicar às crianças que nem sempre se ganha na disputa?
H.S.:
Bem... quanto mais nova a criança, mais difícil será para ela aceitar a derrota no jogo. De qualquer forma, sempre dá para dizer que ela vai ter outra chance e, da próxima vez, ela poderá ganhar. O importante é ter paciência, explicar que ganhar ou perder faz parte do jogo, e repetir isso quantas vezes forem necessárias.

C: Se o filho não quiser mais jogar porque perdeu, os pais devem insistir?
H.S.:
É normal algumas crianças desistirem de brincar porque não aceitam a perda. Forçar o jogo não é o caso. Afinal, as brincadeiras devem ser prazerosas! Mas é preciso novamente explicar que nem sempre a gente ganha. Na vida, é assim também... Essa é uma oportunidade de ensinar seu filho a lidar com as frustrações em geral. Nem sempre as vontades dele serão atendidas. Os pais não devem ter receio de dizer não aos filhos quando for necessário. Mas isso deve ser feito com muito diálogo, paciência e respeito mútuo.

http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI253244-18485,00-DIVERSAO+EM+FAMILIA.html

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Abaixo o depoimento da mãe de uma das minhas pacientes. É interessante como as histórias têm muito em comum. Aproveitem as dicas!